Todos os dias a TV serve de palco para a exibição de crimes bizarros, envolvendo jovens, loucos, pais de família, crianças etc. O sangue que transborda na tela já não surpreende mais, apenas causa repugnância, comoção e indignação populares. Apesar dos esforços e protestos, a violência, inevitável, continua a atrapalhar os sonhos, destruir famílias, gerar pânico e medo no cidadão brasileiro, vítima de um sistema que favorece o crime. Quantos desses atos insanos já não são roteiros completos para produções de horror ousadas e eficientes? Talvez muitos. Pode-se citar Violência Gratuita, Eles, Os Estranhos, Uma Noite de Crime, Um Crime Americano, Helter Skelter, Monster – Desejo Assassino, Assassinos por Natureza, Lizzie, O Silêncio dos Inocentes, O Massacre da Serra Elétrica e Psicose (estes últimos, inspirados no serial killer Ed Gein), além das cine-biografias de Ted Bundy, Charles Manson e muitos outros. O Clã dos Vampiros, lançado em 2002, tenta impressionar por sua condição aparentemente fidedigna.
Em 25 de novembro de 1996, em Eustis, Florida, um grupo que se autodenominava Clâ dos Vampiros, formado por jovens de classe média que acreditavam ser criaturas das trevas, cometeu um violento crime que chocou os Estados Unidos. Rod Ferrell, o líder do grupo, aos seus dezessete anos, invadiu a casa da família Wendorf em companhia de Howard Scott Anderson para roubar um carro e acabou assassinando de forma brutal Richard e Naoma Wendorf.
Isso tudo é fato. Você encontra essas informações em diversos sites americanos, inclusive com explicações cheias de detalhes e chocantes. Mas, se você não mora na América e espera que a produção apresente material suficiente para a compreensão dos fatos, desista, pois O Clã dos Vampiros é feito especialmente para quem já viu a tragédia nos telejornais da época e gostam de assistir programas sensacionalistas com a narração de crimes reais. O enredo é cheio de buracos em sua narrativa extremamente lenta, não permitindo que saibamos mais sobre a natureza dos crimes, a origem do grupo e até mesmo o passado dos criminosos, fatos que seriam importantes para entendermos a razão de tanta violência.
Começa com Jeni Wendorf (Stacy Hogue) se despedindo de seu namorado depois de alguns beijos e indo para casa apressada para que seus pais não percebam o atraso naquela noite. Chegando em casa, uma verdadeira mansão, ela nota um silêncio sobrenatural na residência e caminha para seu quarto, onde trocará de roupa e depois usará o telefone. Assim que percebe que o fio de telefone está cortado, a jovem acredita se tratar de algum problema entre sua irmã e seus pais, então desce para a cozinha para comer alguma coisa na geladeira. O que ela encontra é o ponto alto do filme: sua mãe morta, completamente desfigurada, na cozinha, com sangue espalhado pelo azulejo frio. Ela corre em direção a seu pai, sentado no sofá da sala, e o encontra também num estado similar.
“Quem fez isso gosta de sangue!” – diz um dos policiais quando encontra os corpos e questiona a ausência de pistas dos assassinos. Para piorar a investigação e aumentar o mistério, Heather (Kelly Kruger), irmã de Jeni, está desaparecida, sob suspeita de sequestro. Tempos depois, a tensão se extingue quando uma amiga de Heather informa que ela não foi sequestrada pelos criminosos, a garota foi por vontade própria. A polícia recebe uma informação do paradeiro dos jovens e rapidamente prende todo o grupo numa ação emergente e bem realizada. Então, a partir da prisão, teremos a confissão dos criminosos e os relatos dos atos impressionantes nas palavras dos principais envolvidos.
Corpo de Richard Wendorf, encontrado no sofá |
Corpo de Naoma Wendorf, encontrado na cozinha |
Com um ritmo lento e repleto de diálogos e situações desnecessárias, O Clã dos Vampiros não causa emoção alguma no espectador. Saber que os jovens bebiam sangue e também o modo como agiram no dia de Ação de Graças não parece ser interessante, além de ser bastante óbvio no relato dos acusados. O diretor também contribui para o nosso cansaço através de longos flashbacks repetitivos que apresentam a mesma cena que vimos no começo do filme, mas sob outros ângulos. Talvez esse recurso até poderia funcionar, se o enredo tivesse alguma reviravolta que, com a alteração do prisma, permitiria a revelação. Porém, não há final surpresa, nem nenhuma novidade será apresentada no último ato.
Tendo em vista os buracos do roteiro, vou relatar algumas informações verdadeiras, mas que não estão presentes no filme:
– Rod Ferrell, o líder dos vampiros, é filho de pais adolescentes que costumavam envolvê-lo em rituais de sacrifício, culto à magia negra e ingestão de sangue. Sua mãe, que também sempre se vestia de preto, assumiu a criação defeituosa do filho no tribunal.
– Antes de formar o grupo de vampiros, Rod enfrentou diversos problemas na escola e com a polícia local. Ele costumava dizer que tinha 500 anos e se chamava “Vesago“. Era bastante comum encontrá-lo em cemitérios durante a noite.
– O Clã dos Vampiros costumava jogar um famoso jogo de RPG chamado Vampiro: A Máscara. Nos jogos, eles buscavam a perfeição, através de ferimentos no corpo, escorrimento de sangue e violência.
O verdadeiro clã, liderado por Rod Ferrell |
Assim, O Clã dos Vampiros é uma produção sem alma, feita com o propósito de apenas relembrar a tragédia da época, mas não funciona como filme de suspense ou qualquer outro gênero. Além de possuir uma capa exagerada e um título comercial, a sinopse tentará atraí-lo com palavras de impacto, numa espécie de sedução vampírica. Não se engane, há mais coisas entre as locadoras e os cinemas do que esses filmes medíocres!
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