Por: James G. Junior
“Aquele
que enxerga além do que lhe é permitido ou imposto, sabe bem que o medo pode
nos cegar, bem aventurados são aqueles que ousam enfrentar tudo o que vai a
favor da razão independente dos obstáculos.”
Em meados do século 18, havia na Sibéria um vilarejo que por muitos anos viveu isolado do resto do mundo, ele era cercado por uma densa floresta que segundo relatos, era habitada por uma criatura das trevas, cerca de 120 famílias de camponeses residiam neste vilarejo, eles sobreviviam apenas do cultivo e da pesca. Em estações desprovidas se mantinham com alimentos estocados, pois não conheciam outros meios de sobrevivência.
Durante muito tempo acreditava-se que aquele vilarejo era o único lugar povoado do mundo. Não se tinha expectativa de vida ou qualquer outro interesse de explorar novas áreas, tudo se resumia em uma só civilização. Apesar de coexistirem em harmonia, todos eram coagidos à viver e se contentar apenas com o que tinham.
Durante gerações, anciões alertavam os demais sobre os perigos que rondavam o vilarejo. A criatura que ocupava a floresta, era sanguinária e impiedosa, ela atacava qualquer um que ousasse por os pés em seus domínios, normalmente se alimentava de animais, sugando todo o seu sangue, sabe-se disso porque suas carcaças eram deixadas próximo ao vilarejo para que os moradores pudessem aproveitar a carne, pois nem mesmo um quadrúpede conseguia atravessar a floresta para que servisse de caça para os aldeões.
No rigoroso inverno da região, havia uma tradição que era primordial. Com medo de represaria, um sacrifício humano era oferecido à cada noite de lua cheia e de lua nova como um pedido de compaixão e pacificação, já que a temível criatura não tinha com o que se alimentar em tempos difíceis. Era melhor se abdicar de poucos do que sofrer um ataque em massa, como ocorria tempos atrás. As vítimas eram escolhidas pelo próprio predador que marcava com sangue a porta da casa daquele que deveria ser sacrificado na noite seguinte, a difícil tarefa de quem seria a oferenda era da própria família que ali residia. Havia um espaço reservado no fundo da propriedade chamado de santuário, lá haviam troncos onde as vítimas eram amarradas vivas e ali mesmo sacrificadas pelo opressor. No dia seguinte seu corpo era recolhido e enterrado no cemitério da comunidade, deste modo era selado o acordo e todos poderiam continuar sua humilde rotina.
Supersticiosos, eles afirmam que aqueles que olham nos olhos da criatura, por ela é devorado, mas um sobrevivente desconhecido em estado moribundo que foi atacado e deixado próximo ao vilarejo para ser enterrado, relatou antes de morrer que a criatura tem forma humana, se locomove rapidamente, tem uma pele clara e gelada, com enormes garras, se veste em trajes que a cobre dos pés à cabeça, tem olhos avermelhados e enormes dentes afiados. Este mesmo sobrevivente tinha uma aparência diferenciada de todos que ali viviam, por estarem isolados há bastante tempo e se reproduzirem entre si, aqueles aldeões tomaram uma aparência bem peculiar e notavelmente perceberam certas diferenças entre eles e o desconhecido, notaram a textura de seu cabelo, a cor de sua pele, seus olhos e suas vestimentas, naquele momento ele causou um grande conflito intelecto dentre todos os camponeses, uma verdadeira confusão, deixando complexa até mesmo a mente dos mais sábios, mudando todo um ponto de percepção e de vista no qual eles acreditavam e conheciam desde eras passadas.
Sabe-se apenas, que a criatura vive naquela floresta desde sempre e que tudo se resume há uma floresta e ao enorme território onde é localizado o vilarejo, Suponha-se então que algo não condiz com os fatos e as perguntas que vem à tona são: De onde este estranho vem? Quem ele é? Será que existem mais pessoas como ele?
Durante um longo período, esta dúvida pairou sobre aquela comunidade ingênua, inúmeras foram as ideias de explorar a floresta em busca de respostas, mas o temor ao desconhecido predominava, aquela floresta sempre foi sombria e evitada, nada nunca entrou saiu dela com vida sem o consentimento da terrível criatura.
Os anos se passaram e de tempos em tempos, sempre havia um grupo de bravos homens, que cansados da clausura e determinados à enfrentar o perigo maior em busca de algo que realmente faça sentido em suas limitadas vidas, formavam uma equipe bem equipado com lanças e arcos de flechas e entravam floresta à dentro na esperança de descobrir algo novo, mesmo que para isto tenham que confrontar a criatura que lá se esconde, inúmeras tentativas foram feitas e em todas elas todos os guerreiros que ousaram invadir o insondável habitat daquela cruel criatura foram devolvidos sem vida.
Até que um dia, exaustos de perderem seus entes queridos e de falharem em suas tentativas de exploração, os aldeões resolveram por um basta em suas falsas esperanças e voltaram a levar a vida de antes, onde a concórdia e a ignorância trazia uma imperturbabilidade mais cômoda, porém para aquela criatura que vivia do outro lado das árvores o pacto de coexistência havia se rompido e agora que as coisas se acalmaram, ele foi quem resolveu mostrar quem manda.
Certo dia ao despertarem, os camponeses se depararam com uma marca de sangue em cada casa do vilarejo e acharam estranho o fato das marcações estarem fora de época, além da inédita forma de marcação onde todos foram selecionados, então entenderam aquilo como um aviso onde todos estavam sendo ameaçados de morte e decidiram lutar por suas vidas em um jogo de tudo ou nada, por tanto ao longo do dia criaram armadilhas, acenderam fogueiras em frente de suas moradas e fizeram mais armas para que todos se prevenissem e quando a noite chegou, o silencio pairou sobre o vilarejo, todos se esconderam dentro de casa e aguardaram a aparição do seu algoz, numa noite cansativa onde não se sentia fome ou sono, viram o sol nascer sem qualquer vestígio da criatura, então em seus restringidos pensamentos, acreditaram ter interpretado mal, aquelas marcas em suas portas, então baixaram a guarda e voltaram aos seus afazeres.
Na noite que se seguiu, todos foram se deitar como de costume e pela madrugada, a abominável criatura, saiu de sua mediação e invadiu o vilarejo entrando em cada casa e matando cada pessoa que nela se encontrava sem fazer qualquer alarde, depois ateou fogo em todas as moradias e voltou para a floresta.
Na manhã seguinte, tudo já havia virado cinzas, contudo a fumaça foi avistada ao longe por uma outra comunidade e um grupo de 8 homens chegaram ao local e em meio à toda aquela devastação, um família submerge dos escombros, um casal e seus 4 filhos que haviam criado um refugio subterrâneo e se escondido nele durante o ataque, saíram ilesos daquele arrebatamento brutal e foram levados (com muito temor em entrar no bosque) para um outro vilarejo dos muitos que ficava do outro lado da floresta e lá retomaram suas vidas em um novo recomeço, deixando pra trás todo o costume, doutrina e medo que os escravizaram durante toda a sua vida.
A Criatura das Trevas (assim chamada), nunca mais foi avistada ou se ouviu falar dela. Mesmo aqueles que viviam nas redondezas, desconheciam tal ser, porém eram proibidos de explorar a floresta como uma tradição de seus antepassados, mas quebraram este tabu quando viram a enorme cortina de fumaça sendo trazida pelo vento invadindo suas casas.
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